segunda-feira, 17 de junho de 2013

Levante sua bandeira

Não existe bala no olho, spray de pimenta, bomba de gás lacrimogêneo que pare a revolução. Pois nunca vi tubarão deter onda. Nunca vi árvore deter tempestade.

Somos todos um, independente da sua bandeira, que eu não acho que deve ficar escondida. Ao contrário, tem mesmo é que mostrar. Mesmo que digam que você está aproveitando a marola, não importa, de gota em gota, com um pouco de vento vamos todos nós nos transformando em onda enorme. Só assim vamos causar a erosão do podre e devolvê-lo para o seu lugar de origem, que é no fundo do poço sendo comido pela ferrugem.

Há de se erguer bandeira de movimento, de pensamento, de ideologia, de partido, bandeira que não diz nada e bandeira que diz tudo. Nós somos diferentes e acreditamos nisso, logo não devemos nos equiparar ao sujo. E se você não tiver bandeira, você mesmo que deverá ser o primeiro a ir, ninguém melhor para representá-lo do que você mesmo. Somos todos do mesmo partido: o partido do respeito e da indignação.

Nunca vi palha conversar com fogo sem se queimar. Tem que abafar, tirar todo o oxigênio se não quiser ser queimado. Não há dialogo com quem não quer dialogar. Entenda: quebrar nem sempre é sinônimo de destruição.


quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vaca Preta e Estrume Humano


-->
O exposto do oposto a incomodava tanto que mal podia se mirar no espelho. A vida era doída, ela concluiu. Mas o que não dói não pode ser considerado vida. É pura morte. Então, considerando-se viva, sofria por tudo só pra sentir que vivia um pouquinho mais que os outros. E, quando tudo apertava fazia uma careta qualquer, olhava-se no espelho, coçava o nariz feio, esfregava os dentes feios com a língua feia molhada e cuspia a gosma amarela da boca.
O espelho era limpo todos os dias na esperança de que a alma se mostrasse, não dela, mas do próprio espelho zombeteiro.
Ela não gostava quando riam ou cochichavam sobre o seu nariz. Baixava a cabeça e pensava que de cima ele fosse mais bonito.
A vida era uma vaca preta e o estrume, as pessoas. Esse era o seu pensamento sem linha, sem cabeça, um pensamento doído, cheio de sofrimento. Não fosse pela vida sofrida, talvez preferisse não doer, não doer mesmo. Seria uma pessoa bonita e decidida com um mordomo chamado James, mas se tivesse tudo, ou seja, um mordomo, ela não teria vida porque a vida consiste na dor, no sofrimento das mocinhas feias com narizes feios.

terça-feira, 23 de março de 2010

Bacalhau e Vinho


-->
Era semana santa, e já forçando uma antítese, Cristina andava pela calçada escura da vida fácil. Ela nunca entendeu porque esse nome de vida fácil, pois geralmente apanhava entre um trabalho e outro. O dinheiro era suado, principalmente quando aquele macho bruto ficava tenso entre suas pernas por horas e todo o líquido quente que escorria de sua testa caia nojenta na sua boca. O suor pingando entre o vai e vem do corpo másculo era o que ela mais odiava. O pênis rijo e esfolado não a incomodava tanto quanto aquilo: suor escorrendo devagar; e caindo no seu rosto jovem.
Engraçado - ela pensava - os homens que suavam menos eram os que pagavam melhor. Dessa forma, decidiu atender só em ar condicionado. Nada desses motéis fuleiros com cheiro de barata morta e toalha úmida mofada. Motel fino com ar condicionado era o que havia de melhor.
Quando colocou em alguns anúncios que era fina e atenderia com preço especial na semana santa inúmeros telefonemas vieram seguidos de perguntas clichês.
– Quanto?
–150.
– Hmmm, com tudo?
– Não.
– Com o quê? Pode rolar um oral? No cuzinho?
– Isso pode sim, mas não pode pingar suor em mim.
– Hãm?
– Isso mesmo. Não ouviu? Não pode suar, senão o preço volta a ser o de costume, 250.
– Tudo bem. Você fica por cima, rebolando gostosinho. Não tem como pingar. Mas pode gozar nos peitos, no teu corpo?
– Isso pode. Então, está combinado. Eu te encontro de saia rosa, blusa preta e óculos escuros na Beira Mar.
– Até uma hora.
Já eram quase 13 horas e ela ainda estava em casa. Mais meia hora e o cliente sairia do serviço. Ela deveria estar lá esperando a dois quarteirões. Cristina começou a passar o batom vermelho-carnaval e vestiu a saia vagarosamente, apreciando seu corpo objeto. Penteou os cabelos clareados com água oxigenada e pôs os óculos de marca. Foi buscar na geladeira um pouco de vinho e deu o primeiro gole do dia. Olhou pra mesa e viu o bacalhau cru. Sua mãe não viera. Cristina caminhou até a porta e saiu rápido sem olhar pra casa.
Meia hora depois, ela volta. Não faria o programa, pois lá fora estava tão quente, tão quente... tão calorento que preferiu não arriscar o suor dos outros. O sol de uma hora era horrível.
Preferiu ficar em casa e comer aquele bacalhau com vinho.

Red Bird


Cafajeste? Onde?

Pois todo cafajeste teu seus dias contados. E o pior, o diabo fará você pagar onde quer que esteja.

Amigas sapas, recebi inúmeras críticas da Sônia Abrão e olhares compreensivos das butches em fim de carreira durante minha fase recém fechada de calhorda da novela das 8, tipo José Meyer. Ao contrário do que todas imaginavam, não fiquei com a Camila Pitanga, nem com a Thaís Araújo, nem com a Cristiane Torlloni, tampouco com a Vera Fischer ou mesmo a Giovana Antonelli.

Decidi por outra emissora. A emissora da Betty, a feia.

Vamos abrir outra cartinha dos nossos queridos jurados... Hummm, deixa eu ver.

Embora os telespectadores da minha vida amorosa e revolucionária me arguissem sobre a quantidade de mulheres recentemente enxertadas na minha vida, eles não ficaram felizes pelo fato de eu ter escolhido apenas uma. Esta uma, apesar de menos provida da magnânima beleza da mãe natureza, foi escolhida por diversos fatores: Inteligência, caráter, talentos, simplicidade, segurança e sim, eu gosto é de butch.

Amigas Sapas, esse post é para que vocÊs entendam que vale apena investir em algo primeiramente que não seja a bunda e/ou os peitos. Mulheres não são apenas corpos sexies e deliciosos, são também coração e caráter. Sempre tive a imagem de algo mais profundo do feminino. Como diria Che: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." As butches não deixam de ser doces e sensíveis, são mulheres que devem ser amadas pelo que são. O feminino é lindo e não importa o frasco abarrotado. Por mais que aparentam insensíveis, as butches são as mais doces e honestas pessoas que conheço.

Por isso digo, estou encantada por pássaros vermelhos e não importam o que cochichem, sei que acabarão por gostar dela. Espero que entendam e me apóiem, pois meus dias de cafajeste acabaram.

Beeeeeeeeeeeeejo, Sônia Abrãao.

Maldito Coração


Nesses últimos tempos, venho ensaiando ser uma grande e desprezível cafajeste. Não seria um tapa na cara de ninguém, pois todos já visualizam essa imagem em mim. Infelizmente, meu sorriso fajuto de canto de boca e minha conversa suja e inescrupulosa, altamente pervertida, somando com minha cara cínica e dissimulada, e meu precioso gosto pela bebida, resultam nessa minha efígie vulgar.

Sim. Eu tentei. Remexi o caderninho, andei de bobeira por aí, bebi nos bares mais execráveis, conversei com as mulheres mais solícitas, correspondi a olhares, respondi conversas de msn e scraps do orkut, atendi telefonemas, ousei a dançar forró, fui à boate, ao cabaré, puteiros, teatro, museu, ponches, calouradas e a toda a sorte misericordiosa do mundo.

Resultado: mulher pra cada dia da semana, com direito a até duas por dia, ou três, ou quatro. Cada uma mais diferente do que outra (magra, alta, lisa, rica, ignorante, nerd, bonita, feia, sensual, butch... ). Ai, sapas. Enfim, consegui ser a mais sacana de todas, a mais desprezível cafajeste, a mais calhorda e imbecil entre todas as butches que permeiam a face da terra.

Sei que agora nesse momento, muitas de vocês desejariam ter alguém a quem se acolher, mas a verdade não é de e para todas. Pesarosamente, em meio a tantos braços e colos, eu não quero ninguém. Se eu as iludi? Pode se dizer que sim, mas também não disse que eu buscava um relacionamento. Entorno meu copo esperando esquecer tudo: da vida, do emprego, da faculdade, da família. Estou triste com o mundo, comigo.

Eu não sei ser sacana. Não sei ser uma miserável egoísta.
Afogada entre tantas mulheres de toda fortuna, mesmo assim, eu só penso nela. E ela diz por aí que quer me ver feliz. Como?

“O lugar vago ainda é dela.’’

Juro que tentei, mas meu coração ainda
resiste como o último vietnamita.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Caçadora de Cabeças


-->
Eu ando procurando cabeças. Sou agora uma caçadora de PENSAMENTOS. Não fico feliz com pensamentos gordos e pesados. Sempre pensei que os pensamentos fossem LEVES e FÁCEIS. Geralmente, eu os encontro tristes em alguma parada de ônibus, meio cabisbaixo, sobrevoando uma cabeça como a névoa no topo da montanha. Eu caço pensamentos porque não ando satisfeita com os meus. Eles são tristes e caídos. Quando me olho no espelho, vejo a lágrima que eles derramam na minha testa e choro junto. Tão depressivos, tão sem rumo.
Mas apesar de ser uma huntermind eu não sei como capturá-los. É um hobby muito difícil. Então pensei: se eu fosse um pensamento, o que eu faria? Quais seriam meus pontos fracos? Se eu fosse capturada o que me restaria? Pensei. Pensei e pensei muito e entendi que quando se filosofa tem-se nebulosas de pensamentos e isso poderia ser extremamente perigoso, dependendo de que lado você estivesse.
Então, depois de tudo decidi exterminar meus próprios pensamentos; e pra fazer isso não seria preciso de muita coisa. Bastava um reality show ou uma rede social e puft! Adeus pensamento e adeus texto sobre o pensamento.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Amor amor


-->
Amor, todos os pensamentos das pessoas não são direcionados para seu umbigo. Sei que o seu é o mais belo umbigo de todo o país, ou melhor, de todo o mundo, mas não devemos pensar que tudo é por causa do seu. Os pensamentos estão distribuídos corretamente entre o umbigo de cada um e as próprias dores.
Amor, aquela estrela não está ali somente para lançar luz para seus cabelos. Sim, eu sei que eles são sedosos e lisos, mas nem todo cabelo é pior do que o seu. Já vi muito pelo pubiano com mais personalidade e irrigado por pessoas melhores.
Eu só queria dizerque seu egoísmo me adoece.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Comparações


Eu falei tudo.

-Quase, quase... Seu verde é musgo de piscina pública.
-Hãm?

Ela não entendeu nada.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A fogueira da Orange Butch


Da fogueira não restou muita coisa, apenas lágrimas e cinzas.

Ainda consigo recordar os olhos vermelhos e a pá pintada de fuligem, de tudo como se fosse ontem. Lembro em especial dela que soluçava baixinho no seu canto, jogando fora alguns mimos da carteira de butch. A imagem toda era laranja com as bordas velhas e gastas, talvez igual a seu coração, abarrotado e batidinha nas costas.

Sapa é assim mesmo, chora igual criança quando dói perto da alma. Ela, eu nunca tinha visto tão inconsolável, pois choramingar já era clássico pelo corredor das sem-palavras. Pensar que tão longe e ainda lá.

Belém tinha feito conexões.

Cada uma mandava um telegramazinho vagabundo, bem como nosso orgulho ou o que restava dele ,para diversas partes do país. Diana no seu lindo vestido vermelho andava por Manaus. Angelina tinha o coração bêbado e até tentou queimar o celular pelos arredores de Paraopebas. Fernandes mandou um telegrama para o inferno, pois somente de lá poderia vir os escorpianos. Alguém colava fotos nas paredes como recortes de um coração murcho.

Aquela butch de violão e letra alaranjada foi a única a voltar para São Luís, voltar pra Beira-mar. Ela foi contar seu segredo pro danado do mar que teimava em refletir a lua complicada. O choro dela era uma súplica, um pedacinho do corpo, a última gota da garrafa vazia. E quando todos sumiram, ela ainda estava lá.

(Recolheu as cinzas, misturou com um pouco de lágrima, pingou uma gota de laranja e modelou sua vida boba em algum signo sofisticado de ascendente em libra).

— Isso foi um enterro! Diziam a ela.
— Eu sei.

Ao chegar de viagem, ela pegou o feto abortado, fez um buraco bem grande no quintal e o enterrou com os olhos ainda cheios de lágrimas.

Depois de um tempo, as butches tinham encontrado novas razões de viver, lá pelos interiores do Maranhão. Meninas que nortearam a força existente e provaram que o coração poderia dar certo, era só acreditar no novo. E porquê acreditavam, conseguiam.

Mas numa quinta-feira de inverno, quando todo mundo já esquecia da menina laranja, eis que a própria surge acompanhada, e todas ficam boquiabertas.

—Ei, Ariana. Mas essa daí não era aquela lembrança enterrada?
—É, sim.
—Então, o que aconteceu?
—Ah, é que choveu e ela brotou de novo no meu jardim.