sábado, 9 de janeiro de 2010

A Janela


Ele passara meia hora em frente ao computador, ali estava escrito tudo o que queria dizer. Ela era uma piranha, uma vagabunda, uma safada, uma sacana, uma mesquinha, “uma medíocra?” que seja, deve ser o feminino safado de medíocre. E ainda mais, ela roncava quando dormia, era feia de perfil, tinha as pernas finas, o cabelo horrivelmente bagunçado, sem senso de humor, grotesca, grotesca, grotesca de novo. Por que diabos um dia namoraram?


Ela era insuportavelmente egoísta!


Sim. Ele enviaria. Repetiria na cara se quisesse, com todos os erres e sangue nos olhos. Se ela chorasse, ele se sentiria melhor, superior, saberiam quem realmente mandava no relacionamento, mas ela era tão orgulhosa. Quem sabe se ela entendesse, mas não, não. Ela era simplesmente orgulhosa, nunca mais o veria nos olhos de doente.


Ele por um breve instante sentiu medo, e em outro instante mais medo ainda. O instante foi se prolongando e virando momento. Ficou em dúvida. Ele a amava apesar de.


O importante é que ele a amava e não era orgulhoso. Levantou da cadeira num silêncio absoluto e chutou o computador com a violência das palavras.


— O que está acontecendo? Espantou-se ela que dormia no mesmo quarto na cama ao lado.
—Nada, disse ele, foi apenas um pombo.

Ele olhou pro computador quebrado, deitou ao lado da esposa e dormiu. Durante o sono escapou um pequeno sorriso, pois a janela estava fechada e não tinha como entrar pombo.

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