terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Lama

Era manhã de inverno, por volta das seis horas.
Eu não sei onde doeu, mas doeu.
Caiu lentamente como uma vaca em slow-motion dando um duplo carpado twist, tentando pegar sei lá o que. Aquela queda linda não era poesia, era queda mesmo. Dessas que a gente aperta os olhos, imaginando a dor. Embora ela não tivesse chorado, fui socorrê-la.
—Doeu?
—Não.
—Nem um pouquinho?
—Já disse que não.
—Deixa eu te ajudar a levantar, tá fazendo frio?
—Não precisa. Gosto de banhar na lama. É saudável.
—Você tem certeza?
—Não vê que estou passando essa deliciosa lama na minha cútis?
—Isso vai fazer mal.
—Se fizesse mal, eu não a comeria.
—Você não vai fazer ISSO...
—Olhe, olhe... Hmmm! Ela apanhou um punhado de lama com as duas mãos e derramou na boca aberta.
—Meu Deus! Que nojo, sua porca.
—Porca é você, sua vadia.
—Idiota!
—Vadia de 15 centavos.
Acertei com toda a força meu pé no nariz sujo de lama daquela moça idiota e corri com medo de apanhar. Procurei uma casa de jardim robusto e me escondi ofegante. Fiquei um minuto exato, olhando pra ponta do meu tênis sujo de sangue. Parei, olhei para o caminho que fiz e ri, simplesmente ri.
(risos)
Ela era gorda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário