terça-feira, 23 de março de 2010

Bacalhau e Vinho


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Era semana santa, e já forçando uma antítese, Cristina andava pela calçada escura da vida fácil. Ela nunca entendeu porque esse nome de vida fácil, pois geralmente apanhava entre um trabalho e outro. O dinheiro era suado, principalmente quando aquele macho bruto ficava tenso entre suas pernas por horas e todo o líquido quente que escorria de sua testa caia nojenta na sua boca. O suor pingando entre o vai e vem do corpo másculo era o que ela mais odiava. O pênis rijo e esfolado não a incomodava tanto quanto aquilo: suor escorrendo devagar; e caindo no seu rosto jovem.
Engraçado - ela pensava - os homens que suavam menos eram os que pagavam melhor. Dessa forma, decidiu atender só em ar condicionado. Nada desses motéis fuleiros com cheiro de barata morta e toalha úmida mofada. Motel fino com ar condicionado era o que havia de melhor.
Quando colocou em alguns anúncios que era fina e atenderia com preço especial na semana santa inúmeros telefonemas vieram seguidos de perguntas clichês.
– Quanto?
–150.
– Hmmm, com tudo?
– Não.
– Com o quê? Pode rolar um oral? No cuzinho?
– Isso pode sim, mas não pode pingar suor em mim.
– Hãm?
– Isso mesmo. Não ouviu? Não pode suar, senão o preço volta a ser o de costume, 250.
– Tudo bem. Você fica por cima, rebolando gostosinho. Não tem como pingar. Mas pode gozar nos peitos, no teu corpo?
– Isso pode. Então, está combinado. Eu te encontro de saia rosa, blusa preta e óculos escuros na Beira Mar.
– Até uma hora.
Já eram quase 13 horas e ela ainda estava em casa. Mais meia hora e o cliente sairia do serviço. Ela deveria estar lá esperando a dois quarteirões. Cristina começou a passar o batom vermelho-carnaval e vestiu a saia vagarosamente, apreciando seu corpo objeto. Penteou os cabelos clareados com água oxigenada e pôs os óculos de marca. Foi buscar na geladeira um pouco de vinho e deu o primeiro gole do dia. Olhou pra mesa e viu o bacalhau cru. Sua mãe não viera. Cristina caminhou até a porta e saiu rápido sem olhar pra casa.
Meia hora depois, ela volta. Não faria o programa, pois lá fora estava tão quente, tão quente... tão calorento que preferiu não arriscar o suor dos outros. O sol de uma hora era horrível.
Preferiu ficar em casa e comer aquele bacalhau com vinho.

Red Bird


Cafajeste? Onde?

Pois todo cafajeste teu seus dias contados. E o pior, o diabo fará você pagar onde quer que esteja.

Amigas sapas, recebi inúmeras críticas da Sônia Abrão e olhares compreensivos das butches em fim de carreira durante minha fase recém fechada de calhorda da novela das 8, tipo José Meyer. Ao contrário do que todas imaginavam, não fiquei com a Camila Pitanga, nem com a Thaís Araújo, nem com a Cristiane Torlloni, tampouco com a Vera Fischer ou mesmo a Giovana Antonelli.

Decidi por outra emissora. A emissora da Betty, a feia.

Vamos abrir outra cartinha dos nossos queridos jurados... Hummm, deixa eu ver.

Embora os telespectadores da minha vida amorosa e revolucionária me arguissem sobre a quantidade de mulheres recentemente enxertadas na minha vida, eles não ficaram felizes pelo fato de eu ter escolhido apenas uma. Esta uma, apesar de menos provida da magnânima beleza da mãe natureza, foi escolhida por diversos fatores: Inteligência, caráter, talentos, simplicidade, segurança e sim, eu gosto é de butch.

Amigas Sapas, esse post é para que vocÊs entendam que vale apena investir em algo primeiramente que não seja a bunda e/ou os peitos. Mulheres não são apenas corpos sexies e deliciosos, são também coração e caráter. Sempre tive a imagem de algo mais profundo do feminino. Como diria Che: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." As butches não deixam de ser doces e sensíveis, são mulheres que devem ser amadas pelo que são. O feminino é lindo e não importa o frasco abarrotado. Por mais que aparentam insensíveis, as butches são as mais doces e honestas pessoas que conheço.

Por isso digo, estou encantada por pássaros vermelhos e não importam o que cochichem, sei que acabarão por gostar dela. Espero que entendam e me apóiem, pois meus dias de cafajeste acabaram.

Beeeeeeeeeeeeejo, Sônia Abrãao.

Maldito Coração


Nesses últimos tempos, venho ensaiando ser uma grande e desprezível cafajeste. Não seria um tapa na cara de ninguém, pois todos já visualizam essa imagem em mim. Infelizmente, meu sorriso fajuto de canto de boca e minha conversa suja e inescrupulosa, altamente pervertida, somando com minha cara cínica e dissimulada, e meu precioso gosto pela bebida, resultam nessa minha efígie vulgar.

Sim. Eu tentei. Remexi o caderninho, andei de bobeira por aí, bebi nos bares mais execráveis, conversei com as mulheres mais solícitas, correspondi a olhares, respondi conversas de msn e scraps do orkut, atendi telefonemas, ousei a dançar forró, fui à boate, ao cabaré, puteiros, teatro, museu, ponches, calouradas e a toda a sorte misericordiosa do mundo.

Resultado: mulher pra cada dia da semana, com direito a até duas por dia, ou três, ou quatro. Cada uma mais diferente do que outra (magra, alta, lisa, rica, ignorante, nerd, bonita, feia, sensual, butch... ). Ai, sapas. Enfim, consegui ser a mais sacana de todas, a mais desprezível cafajeste, a mais calhorda e imbecil entre todas as butches que permeiam a face da terra.

Sei que agora nesse momento, muitas de vocês desejariam ter alguém a quem se acolher, mas a verdade não é de e para todas. Pesarosamente, em meio a tantos braços e colos, eu não quero ninguém. Se eu as iludi? Pode se dizer que sim, mas também não disse que eu buscava um relacionamento. Entorno meu copo esperando esquecer tudo: da vida, do emprego, da faculdade, da família. Estou triste com o mundo, comigo.

Eu não sei ser sacana. Não sei ser uma miserável egoísta.
Afogada entre tantas mulheres de toda fortuna, mesmo assim, eu só penso nela. E ela diz por aí que quer me ver feliz. Como?

“O lugar vago ainda é dela.’’

Juro que tentei, mas meu coração ainda
resiste como o último vietnamita.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Caçadora de Cabeças


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Eu ando procurando cabeças. Sou agora uma caçadora de PENSAMENTOS. Não fico feliz com pensamentos gordos e pesados. Sempre pensei que os pensamentos fossem LEVES e FÁCEIS. Geralmente, eu os encontro tristes em alguma parada de ônibus, meio cabisbaixo, sobrevoando uma cabeça como a névoa no topo da montanha. Eu caço pensamentos porque não ando satisfeita com os meus. Eles são tristes e caídos. Quando me olho no espelho, vejo a lágrima que eles derramam na minha testa e choro junto. Tão depressivos, tão sem rumo.
Mas apesar de ser uma huntermind eu não sei como capturá-los. É um hobby muito difícil. Então pensei: se eu fosse um pensamento, o que eu faria? Quais seriam meus pontos fracos? Se eu fosse capturada o que me restaria? Pensei. Pensei e pensei muito e entendi que quando se filosofa tem-se nebulosas de pensamentos e isso poderia ser extremamente perigoso, dependendo de que lado você estivesse.
Então, depois de tudo decidi exterminar meus próprios pensamentos; e pra fazer isso não seria preciso de muita coisa. Bastava um reality show ou uma rede social e puft! Adeus pensamento e adeus texto sobre o pensamento.