terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Menino Bobo


Ela estava irritada e com sono, e lavava a louça do almoço de costas para o sobrinho. Os gritos de crianças espalhados pela casa e a tortura da falta de silêncio a angustiava. Mal podia concentrar-se nos seus pensamentos sempre mudos. Mas o menino falava tanto e a amava tanto que sentia alguma coisa de ruim nela mesma. Não fosse egoísmo e ciúmes das próprias palavras seria o quê?
Aquela criança era tão boba, tão boba e tão. Arriscou-se a conversar.

- Tia, depois da louça, vamos fazer um treinamento ninja?
- Hum rum.
- Tia, eu vou ser veterinário.
- Hum rum.
- Tia, e a senhora?
- Hein?
- O que a senhora vai ser quando a senhora puder ser tudo?
Ela ficou imóvel por alguns segundos. Ninguém tinha feito antes aquela pergunta estranha, nem pode responder de confusa. Sentiu-se como uma lagartinha burra.

- Hum, acho que eu quero ser uma borboleta
Ele abraçou as pernas dela e sorriu.
- Então eu vou cuidar da senhora, tia.

Ela abaixou a cabeça para olhá-lo.
Menino bobo.

Um comentário: